Todos nós experimentamos emoções
de vários tipos e
tentamos lidar com estas emoções, de modos eficazes ou ineficazes. Não é a
experiência da ansiedade que é o verdadeiro problema. É a nossa capacidade
de reconhecer a nossa ansiedade, de a aceitar, de a usar se possível e
continuar a funcionar, apesar disso. Sem emoções, as nossas vidas não
teriam significado, textura, riqueza, alegria e ligação com os outros.
As emoções informam-nos das nossas
necessidades, das nossas frustrações e dos nossos direitos – elas motivam-nos
para fazermos mudanças, para escaparmos de situações difíceis, ou para sabermos
quando estamos satisfeitos. No entanto, há muitas pessoas que se sentem
subjugadas pelas suas emoções, receosas dos seus sentimentos e incapazes de
enfrentar as situações porque elas acreditam que a sua tristeza ou ansiedade
não permitem um comportamento eficaz.
Este
livro destina-se a todos os clínicos que ajudam estas pessoas a lidarem mais
eficazmente com as suas emoções. Encaramos a emoção como compreendendo um
conjunto de processos, nenhum dos quais suficiente para chamarmos a uma
experiência uma “emoção”. As emoções, como a ansiedade, apreciação,
sensação, intencionalidade (um objecto), um “sentimento” (ou “qualia”)(?),
comportamento motor e, na maior parte dos casos, uma componente interpessoal.
Assim, quando temos a emoção da “ansiedade”, reconhecemos que estamos
preocupados por não acabarmos o trabalho a tempo (apreciação), o coração
bate rápido (sensação), focamo-nos na nossa competência (intencionalidade)
e podemos muito bem dizer ao nosso colega que é um mau dia (interpessoal).
Devido à natureza multidimensional da emoção, os clínicos podem considerar qual
dimensão deverá ser focada primeiro, escolhendo de entre uma variedade de
abordagens, cada uma delas representada neste volume. Por exemplo, ao escolher
que técnicas usar e para que pacientes, os clínicos podem ter em conta as suas
opções técnicas com base no problema que se apresenta no momento. Por exemplo,
se a luta de um paciente com sensações de excitação for muito problemática, o
terapeuta pode usar técnicas de gestão de stress (por ex., relaxamento,
exercícios respiratórios), intervenções baseadas na aceitação, estratégias
emocionais focadas no programa, ou atenção plena (“mindfulness”).
Se o
paciente é confrontado com uma sensação de que a situação é
avassaladora, o terapeuta pode pensar em reestruturação cognitiva ou resolução
de problemas para colocar as coisas em perspectiva e para considerar possíveis
modificações da situação stressante. Deste modo, a regulação da emoção pode
implicar reestruturação cognitiva, relaxamento, activação comportamental ou
determinação de objectivos, esquemas emocionais e tolerância do afecto, mudanças
comportamentais e modificar tentativas problemáticas de procurar validação. Em
cada um dos capítulos deste volume, damos sugestões aos clínicos para avaliarem
que técnicas poderão ser melhores para que pacientes.
As
emoções têm uma longa história na filosofia Ocidental. Plato encarava as
emoções como parte de uma metáfora do cocheiro que tenta controlar dois
cavalos: um que é facilmente domado e não precisa de indicações e outro que é
selvagem e possivelmente perigoso. Filósofos estóicos como Epictetus, Cícero e
Seneca viam a emoção como a experiência que enganou a aptidão racional, que
deveria dominar sempre e controlar as decisões. Em contraste, a emoção e a sua
expressão têm sido altamente valorizadas na cultura Ocidental. De facto, o
panteão de deuses Gregos representava uma vasta gama de emoções e dilemas. A
peça de Euripides, “The Bacchae” representa
o perigo de ignorar e desonrar o espírito livre e selvagem de Dionísio.
A emoção desempenha um papel central em
todas as principais religiões do mundo que realçam a gratidão, a compaixão,
o temor/reverência, o amor e até a paixão. O movimento
Romântico rebelou-se contra a “racionalidade” do Iluminismo, realçando a
natureza livre e natural do homem, a capacidade de criatividade, de
entusiasmo, da inovação, de amor intenso e até o valor do
sofrimento.
Na tradição religiosa Ocidental, a prática
Budista debate as emoções que são afirmações de vida e as que são destrutivas,
encorajando o indivíduo a experimentar plenamente a variedade de emoções, ao
mesmo tempo que se liberta da ligação à permanência de qualquer estado
emocional.
O que é a
Regulação de Emoção?
Os
indivíduos que enfrentam uma experiência stressante, irão experimentar uma
intensidade crescente de emoção que, por si só, pode ser mais uma causa de
stress e uma escalada de emoção. Por exemplo, um homem que experimenta a
dissolução de uma relação íntima sente tristeza, raiva, ansiedade, desespero e
até um sentimento de alívio. À medida que estas emoções se tornam mais
intensas, ele pode abusar do uso de drogas ou álcool, comer descontroladamente,
perder o sono, ou criticar-se a ele próprio. Assim que as emoções de ansiedade,
tristeza, ou raiva ocorram, os estilos problemáticos de lidar com a intensidade
emocional podem determinar se a sua experiência stressante de vida leva a
outras maneiras problemáticas de enfrentar a situação.
A sua
desregulação emocional pode levá-lo a reclamar, a amuar e a atacar ou a
afastar-se dos outros. Ele pode reflectir nas suas emoções, tentando perceber o
que realmente se está a passar, o que o afunda ainda mais na depressão,
isolamento e inactividade. Os estilos problemáticos de enfrentamento podem
reduzir temporariamente a excitação/estimulação (por ex., beber reduz a
ansiedade, a curto prazo), mas pode exacerbar o enfrentamento emocional, mais
tarde. Estas soluções temporárias (comer compulsivamente, esquivar-se, a
reflexão e o abuso de substâncias) podem resultar, no curto prazo; no entanto,
as soluções podem tornar-se o problema.
Definimos desregulação emocional como a dificuldade ou
incapacidade de lidar com a experiência ou de processar emoções. A desregulação
pode manifestar-se ou como intensificação excessiva da emoção, ou como
desactivação excessiva da emoção. A intensificação excessiva da emoção inclui
qualquer aumento da intensidade de uma emoção que é experimentada pelo
indivíduo como indesejada, intrusiva, avassaladora, ou problemática.
Acréscimos
de emoção resultantes em pânico, terror, trauma, pavor, ou uma sensação de
emergência em que nos sentimos subjugados e temos dificuldade em tolerar uma
emoção, enquadram-se nestes critérios. A desactivação excessiva da emoção
inclui experiências dissociativas, como despersonalização e desrealização,
cisão, ou entorpecimento emocional no contexto de experiências que normalmente
resultariam em alguma intensidade sentida ou magnitude de emoção.
Por exemplo, ao confrontar uma situação de ameaça de vida, uma mulher
reage com uma sensação de entorpecimento emocional e refere que se sentia como
se estivesse numa outra dimensão de tempo e espaço, enquanto observava o que
parecia um filme. Esta desactivação da emoção, marcada pela desrealização,
seria encarada como uma reacção atípica a um acontecimento traumático.
A desactivação excessiva da emoção dificulta
o processamento emocional e é parte de um estilo de enfrentamento, a evitação. No entanto, pode haver situações em que desactivar ou
suprimir temporariamente uma emoção pode ajudar no enfrentamento. Por exemplo,
uma primeira resposta a um evento catastrófico pode ser mais adaptativa ao
suprimir o medo no curto prazo, de modo a lidar com a situação no momento
presente.
A regulação da emoção pode incluir
qualquer estratégia de enfrentamento (problemática ou adaptável) que o
indivíduo use, quando confrontado com uma indesejada intensidade de emoção. É
importante reconhecer que a regulação de emoção é como um termostato homeostático. Ela pode moderar as emoções e mantê-las
dentro de um “alcance controlável”,
para que se consiga lidar com elas. Ou a moderação – acima ou abaixo – pode
deslocar as coisas tão extremamente que cria uma situação que é “muito quente”
ou “muito fria”.
A regulação da emoção é como qualquer
outro estilo de enfrentamento: depende do contexto, da situação. Não é
problemática ou adaptativa, independente da pessoa e da situação no momento
presente.
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